Aerossóis de queima de biomassa
Na floresta amazônica, a estação das secas normalmente dura de julho a outubro. Durante esse tempo, em geral ocorrem muitos incêndios, tanto de desmatamento quanto de práticas agrícolas. Quando árvores, arbustos ou outras biomassas queimam, o incêndio produz fuligem, também conhecida como Carbono Negro, e uma variedade mais leve de partículas denominadas Brown Carbon (literalmente traduzidos por “carbono marrom”). Essas partículas são transportadas para a alta atmosfera.
Carbono Negro e Brown Carbon são aerossóis, ou seja, partículas suspensas no ar. Como tal, elas podem espalhar e absorver a luz solar. Isso, por sua vez, pode acarretar mudanças no balanço de energia na superfície. Os cientistas se referem a esses processos como interações aerossol-radiação (ARIs). Mas esses aerossóis também podem atuar como sementes para a formação de nuvens, chamadas de núcleos de condensação de nuvens. Isso afeta o número de gotículas de nuvens na atmosfera, o que pode influenciar uma série de processos atmosféricos, incluindo a própria formação da nuvem. Esses processos são chamados de interações aerossol-nuvem (ACIs).
Análise dos seus efeitos na Amazônia
ARIs e ACIs podem se sobrepor ou se contrabalançar. Lixia Liu e seus colegas passaram a querer separar os dois processos para descobrir como eles afetam o clima regional de forma individual e comparar suas importâncias relativas em diferentes intensidades de emissão de queima de biomassa. Para isso, usaram simulações computacionais, nas quais tiveram a oportunidade de simular diferentes cenários com ou sem os ARIs.
A equipe descobriu que a quantidade de aerossóis existentes influencia os processos que dominam. As interações aerossol-nuvem são mais importantes quando o ar está relativamente limpo. Isso pode levar a um resfriamento modesto da atmosfera. As interações aerossol-radiação predominam quando há muitos aerossóis, o que pode levar a um forte aquecimento na atmosfera.
Mais incêndios, menos chuva
No entanto, em todos os cenários, a inserção de aerossóis da queima de biomassa à atmosfera resultou em menos chuva na região. Os ACIs exerceram um papel importante nisso, especialmente com queima de biomassa baixa e moderada. Eles atuam como núcleos de condensação de nuvem e então os aerossóis de queima de biomassa levam mais gotas de nuvem, porém menores. Isso retarda o processo de formação de nuvens e, consequentemente, impede a formação de chuva. Mas os ARIs potencializam isso e até ultrapassariam os ACIs com alta emissão de queima de biomassa, porque as partículas de fuligem absorvem a luz do sol e, portanto, aquecem a atmosfera e escurecem a superfície. Isso reduz a convecção atmosférica, que levaria às tempestades da tarde, típicas dos trópicos. Com convecção reduzida, é menos provável que chova.
As mudanças climáticas e a perda de florestas devido ao desmatamento já levam a estações de secas na Amazônia cada vez mais secas e prolongadas. Esses efeitos da queima de biomassa ameaçam ampliar ainda mais as secas na floresta amazônica.
Liu et al. publicou “Impact of biomass burning aerosols on radiation, clouds, and precipitation over the Amazon: relative importance of aerosol-cloud and aerosol–radiation interactions” Open Access em Atmos. Chem. Phys.
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