Hoje em dia fala-se muito sobre material particulado, principalmente no contexto da poluição do ar nas cidades. Mas e quanto ao material particulado na floresta amazônica? Bem, a resposta curta é que o material particulado também está presente no ar acima da Amazônia. E embora suas concentrações sejam menores que as das grandes cidades, os incêndios de desmatamento e urbanização têm um impacto significativo. Descobrir qual é exatamente esse impacto foi o objetivo de um novo estudo de Suzane de Sá e coautores.
Os pesquisadores analisaram a concentração, a composição e as propriedades do material particulado na Amazônia central. Como parte da campanha GoAmazon, os autores coletaram dados durante a estação de secas, quando os eventos de queima são mais frequentes. O principal local do estudo ficava a favor do vento em Manaus, mas Suzane de Sá e coautores usavam o local do ATTO, com seu ar relativamente limpo, na direção contra o vento de Manaus para comparar. Para realizar essa comparação, é importante identificar os efeitos da poluição urbana e da queima das florestas na localização natural. A concentração média de material particulado encontrada no local do estudo foi de aproximadamente 12 µg/m3 na pequena fração de PM1 (partículas menores que 1 µm de diâmetro). Para comparação, os valores médios nas cidades europeias estão na faixa de 15 a 20 µg/m3. Mas em áreas com poluição atmosférica severa, esses valores podem disparar e atingir mais de 100 µg/m3.
Na Amazônia, partículas da queima de biomassa e poluição urbana são responsáveis por cerca de 30% de todo o material particulado, enquanto o restante vem de fontes biogênicas. A equipe também encontrou uma concentração geral de material particulado muito maior durante a estação das secas. Isto se dá em parte por conta do aumento de partículas de fontes antropogênicas. Porém, a quantidade de partículas de fontes biogênicas também aumenta durante esse período. Mas, embora a fração antropogênica de material particulado seja relativamente baixa, absorvem muito mais luz que as partículas biogênicas. Em suma, isso torna o ar mais quente. As partículas biogênicas refletem mais luz, neutralizando o efeito estufa até certo ponto.
O artigo foi publicado recentemente em Atmospheric Chemistry and Physics e está disponível em Open Access: 10.5194/acp-19-7973-2019
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