O crescimento das árvores Nectandra amazonum (Lauraceae) nas várzeas da Amazônia Central não responde às inundações anuais de longo prazo, e sim à variação da temperatura mínima e à evapotranspiração.
Florestas de várzea amazônica
O ciclo hidrológico da floresta amazônica está mudando. Os três principais fatores que contribuem para isso são as mudanças no uso da terra e o desmatamento, a implementação de usinas hidrelétricas e as mudanças climáticas. Juntos, esses fatores causam secas mais severas e frequentes em algumas regiões e inundações em outras. Não é surpresa que as árvores sejam afetadas por essas mudanças, e as florestas de várzea em especial podem estar vulneráveis.
Mas, até o momento, os cientistas sabem muito pouco sobre como os efeitos concretos das mudanças climáticas e hidrológicas impactam o crescimento das árvores. Para preencher essa lacuna, a aluna de mestrado Janaína Quixabeira Gonçalves e sua equipe estudaram as espécies arbóreas Nectandra amazonum perenes e adaptadas às inundações. É a espécie de árvore dominante na chamada “várzea”. A várzea é um tipo de floresta amazônica que cresce em solos ricos em nutrientes ao longo dos rios de águas claras. (A outra é a floresta Igapó, que cresce em solos pobres em nutrientes ao longo dos rios de águas negras, como o Uatuma, próximo ao ATTO.)
Variabilidade do crescimento da árvore
Os cientistas, então, amostraram árvores em uma dessas várzea no Lago do Catalão, perto da cidade de Manaus. Eles usaram uma mescla de métodos diferentes, incluindo dendrocronologia de anéis de árvores para determinar o crescimento das mesmas. Em correlação com o clima local e dados hidrológicos, os pesquisadores analisaram como o crescimento das árvores mudou no período de 2001 a 2017. A surpresa veio quando não encontraram nenhuma correlação entre o crescimento e o regime hidrológico, embora estudos anteriores tenham apontado tal relação. Isso indica que a Nectandra amazonum pode ser mais resiliente às perturbações do ciclo hidrológico do que outras espécies.
No entanto, a equipe encontrou variações no crescimento da árvore e na densidade da madeira dos anéis, e os resultados sugerem que a temperatura e a evapotranspiração desempenham um papel importante. Especificamente, as árvores crescem de forma mais lenta durante os períodos em que as temperaturas noturnas, em geral as temperaturas mínimas do dia, são mais altas. Essa relação é ainda mais evidente durante os meses em que a floresta está inundada. Durante esse período, as temperaturas noturnas nas várzeas são mais altas porque a água atua como um absorvente para a temperatura. Já durante as noites mais quentes, a respiração do tronco aumenta e, como resultado, o crescimento é reduzido.
Em conclusão, enquanto a Nectandra amazonum parece ser mais resiliente do que outras espécies às mudanças no ciclo hidrológico, ela também pode ser vulnerável às mudanças climáticas, em especial ao aumento das temperaturas mínimas.
Gonçalves et al. publicaram o estudo “Minimum temperature and evapotranspiration in Central Amazonian floodplains limit tree growth of Nectandra amazonum (Lauraceae)” na revista Trees.
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