Dispersão limitada de partículas gigantes de bioaerossol

Há muito pouco tempo, um estudo do ATTO revelou que tipo de espécies de plantas e fungos estão presentes na atmosfera amazônica em todos os tamanhos de partículas. Outro estudo agora se concentra nas chamadas “partículas gigantes de bioaerossol” maiores que 5 µm. O foco principal deste novo estudo foi identificar como a distribuição de diferentes tipos de partículas nesta fração de grande tamanho muda com a altura. Os cientistas também queriam descobrir se as mudanças no tempo e no clima afetam a distribuição e a composição das partículas.

Partículas gigantes de bioaerossol

Partículas nesta faixa de tamanho em geral incluem grãos de pólen e esporos de fungos. A equipe que trabalhava com Cybelli Barbosa se interessou por seus padrões de distribuição por conta de carregarem informações genéticas para polinização, colonização e infecção. Os cientistas também acreditavam que o pólen e os grandes esporos poderiam sofrer transporte de longa distância e influenciar os processos locais de precipitação. No entanto, sabemos pouco sobre sua abundância no ar acima do dossel. A maioria dos estudos anteriores analisou os padrões de distribuição apenas no nível do solo e se concentrou em regiões temperadas.

Trabalho de mão de obra intensivo

Mas agora a equipe decidiu observar os padrões de distribuição dessas partículas gigantes de bioaerossol na atmosfera quase intocada do local do ATTO.

Durante um período de cinco anos, Cybelli Barbosa e seus colegas realizaram oito campanhas intensivas de amostragem, tanto na estação das chuvas quanto na da seca. Para coletar as amostras de ar, a equipe escalou a torre de 80 metros e a torre alta todos os dias, mesmo que estivesse fazendo muito calor e a umidade estivesse alta.

Cada membro da equipe então identificou o incrível número de 500.000 partículas individuais através de um microscópio de luz. Esse tremendo esforço levou vários meses e incluiu a inspeção de cada partícula individual e a medição de seu tamanho. Isso permitiu que a equipe categorizasse as partículas em grupos principais: pólen, esporos (fungos, samambaias, briófitas), resíduos do dossel (partes de folhas/madeira, glândulas, partes de insetos, plantas amorfas e restos de fungos) e partículas não orgânicas.

O esforço foi frutífero, pois os cientistas fizeram algumas descobertas emocionantes e surpreendentes.

Imagens microscópicas de partículas gigantes de aerossol encontradas no ATTO. © Cybelli Barbosa

Descobertas emocionantes

Graças à análise microscópica manual, a equipe encontrou muitas partículas gigantes de bioaerossol além do pólen e dos esporos. As amostras continham muitos detritos do dossel que consistiam em fragmentos de plantas e tecidos fúngicos. Esses detritos representavam cerca de dois terços de todas as partículas em muitas das amostras. Alguns desses detritos contêm DNA e, portanto, não é difícil que sejam confundidos com pólen ou esporos em análises genéticas.

Em segundo lugar, as quantidades de bioaerossóis grossos e “gigantes” acima da floresta amazônica diminuíram de forma substancial em comparação com as encontradas logo acima do dossel. Isso sugere que muitas dessas partículas ficam perto de onde são criadas e dispersas. O transporte de longo alcance e a interação na nuvem não parecem ser um fator importante. Para tal, as partículas seriam transportadas mais para cima.

No entanto, os momentos em que houve picos de abundância de pólen acima do dossel coincidiram com o aumento da velocidade do vento associado a tempestades convectivas. Por outro lado, a precipitação e o aumento da umidade relativa levam à queda do número de partículas gigantes, pois a chuva as remove do ar.

O crucial foi que com esta faixa de transporte “limitada”, os grandes esporos de fungos e partículas de pólen têm uma forte influência nos períodos de chuva local para esta área tropical. Isso pode orientar estudos futuros sobre o papel das partículas gigantes de bioaerossol nos ciclos de precipitação.

Em terceiro lugar, a equipe montou o primeiro inventário ilustrado de todos os bioaerossóis analisados. Este atlas de “Bioaerossóis da Floresta Amazônica Brasileira: pólens e esporos” está disponível online gratuitamente, em formato bilíngue (inglês e português), além da publicação do estudo.

Barbosa et al. publicaram o estudo “Identification and quantification of giant bioaerosol particles over the Amazon rainforest” em Acesso Aberto no npj Climate and Atmospheric Science doi: 10.1038/s41612-022-00294-y

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